Entre
os anos 470 a 400 antes de Cristo, época em que viveu Sócrates, os
habitantes da cidade de Atenas, na Grécia, diferente dos de Esparta, que
mais se preocupavam em se preparar para a guerra, tiveram uma cultura
bem desenvolvida e diversificada. Por volta do ano 450 a.C., um
governante de Atenas chamado Péricles, além de fortalecer a democracia
(participação do povo nas discussões e decisões políticas), incentivou a
cultura atraindo para a cidade filósofos, poetas, artistas diversos.
Sócrates viveu nesse período especial de Atenas, mas também conheceu a
decadência de Atenas com a guerra e a peste.
Sócrates
foi aluno dos chamados “sofistas”, que eram mestres ambulantes,
ensinavam de casa em casa para os que podiam pagar pelas aulas. Não
havia escolas. Durante muito tempo Sócrates foi aluno desses mestres até
o dia em que se voltou contra eles e se tornou um novo mestre.
Vivia pelas praças dialogando com os jovens e
sem cobrar por essa atividade. Tentava libertar os jovens das
manipulações das lideranças e voltava-se contra os sofistas, sobretudo
por um motivo: eles ensinavam.
Sócrates
utilizava dois métodos de educação. Um ganhou o nome de “maiêutica”,
palavra que deriva de mãe. Ele era filho de uma parteira. A função da
parteira é ajudar a criança a vir à luz. Não é ela que faz a criança
existir. Sócrates se dizia um parteiro de ideias. Afirmava que nenhum
mestre podia ensinar nada porque as pessoas já nascem sabendo. Cada
pessoa já nasce com todo o saber dentro de si. Cada pessoa é um
“microcosmo”, um resumo do mundo. Mas precisa tirar esse saber de si
para poder utilizá-lo. Por isso Sócrates não ensinava, apenas provocava.
Para provar sua teoria ele em certa ocasião se pôs a dialogar com um
escravo, iletrado. E sem afirmar nada, apenas questionando de maneira
lógica e linear, fez com que o escravo chegasse a admiráveis conclusões
intelectuais. Sua máxima era “conhece-te a ti mesmo”,
isto é, aquilo que você precisa saber não busque nos mestres, busque
dentro de si mesmo. O mestre deve apenas facilitar, ajudar.
O
outro método de Sócrates era a “ironia”. Ele procurava os considerados
sábios dando a impressão de buscar uma lição no interlocutor. Com grande
lógica e coerência de raciocínio acabava fazendo com que o outro
desistisse do diálogo ou caísse em contradição. Então dizia: “Sou o mais
sábio porque, pelo menos, sei que não sei”. Quem se considera sábio não
aprende porque acredita que já sabe e para de pensar. É necessário
sempre desenvolver mais o pensar e pensar sobre o que se aprende. O
saber não se esgota. Não há nada sobre o que alguém saiba tudo. Dizia
Sócrates “Só sei que não sei”.
Sócrates
acabou sendo condenado à morte acusado de estar incentivando a
rebeldia, de estar corrompendo a juventude e ofendendo os deuses. Após o
julgamento propuseram pagar certa quantia em troca de continuar
vivendo. Seus discípulos queriam pagar, mas Sócrates considerou que isso
significaria reconhecer-se culpado. Preferiu morrer.
Platão
nasceu em 427 a.C. e pertenceu a uma família nobre de Atenas. Foi
discípulo de Sócrates. Após a morte de seu mestre ele saiu de Atenas e
fez muitas viagens. Trinta anos depois voltou à sua cidade e fundou uma
escola que recebeu o nome de Academia.
Em
sua filosofia Platão afirma que o mundo que conhecemos não é
verdadeiro. Para ele a verdade não está no que podemos ver, tocar,
ouvir. Tudo o que pegamos, vemos, ouvimos não é a verdadeira realidade,
mas apenas sombras.
Na
filosofia de Platão existem dois mundos: o primeiro é aquele que
podemos perceber ao nosso redor, com os cinco sentidos. O outro é o
mundo das ideias, onde tudo é perfeito e imutável. Não podemos tocá-lo,
ele não é concreto. Só o pensamento pode nos levar até ele.
Vemos
as coisas que conhecemos como se fossem reais, mas elas não passam de
sombras, ilusão. A verdade está fora, no mundo das ideias, na luz. Ou
seja: é preciso desconfiar do que nossos olhos e ouvidos dizem. Devemos
nos guiar pelo pensamento e pela razão.
Platão
afirmava que o corpo era um túmulo que aprisiona a alma. Um obstáculo
ao pensamento; acreditava que para atingir a verdade e o bem, você deve
se libertar da sedução dos sentidos.
São
os apelos do corpo, que nos levam a paixões descontroladas e nos
afastam da verdade. Platão dizia que ele deve ser sempre submetido às
avaliações do pensamento. (Viviane Mosé, entrevista ao programa
Fantástico, R.Globo, 2005).
Platão
faz uma distinção entre dois mundos: o mundo material, dos sentidos, e o
mundo ideal, das ideias, do pensamento. Para ele o mundo ideal é mais
real do que o mundo material.
Aristóteles
nasceu em 384 a.C., em Estagira, na Macedônia. Jovem ainda foi para
Atenas ingressando na Academia de Platão, onde permaneceu por vinte
anos. Após a morte de seu mestre, Aristóteles era seu natural substituto
na direção da Academia. Entretanto não pôde assumir tal função, por ser
considerado pelos atenienses um estrangeiro. Decepcionado com o
acontecimento deixou Atenas e partiu para a Ásia Menor.
A
sua fama de filósofo aumentava dia a dia quando Felipe II, Rei da
Macedônia, o convidou para ser educador de seu filho Alexandre.··.
Em 338 a.C., Aristóteles retornou a Atenas fundando sua própria escola que passou a ser conhecida como Liceu.
Aristóteles
concordava que era necessário incentivar a todos em função de se ir
além das impressões dos sentidos, mas afirmava que todos os
conhecimentos passam pelos sentidos. Para ele nada há em nossa
consciência que não tenha passado pela experiência material. Ele
discordou de seu mestre Platão de que haja uma distinção entre mundo
ideal e mundo dos sentidos. Diferente de Platão, que era idealista (porque
partia das ideias), Aristóteles era materialista no sentido de que,
para o aprendizado, ele valorizava a experiência com a matéria.
Enquanto
Platão vem do geral para o particular, Aristóteles vai do particular
para o geral. Você imagina uma árvore. Para Platão essa imagem árvore é
real, é verdadeira; vem do mundo das ideias. E quanto à árvore
particular, aquela que você pode ver, tocar, cheirar? Um animal vê, toca
e cheira a árvore, mas não vai além disso. O ser humano pode admirar,
contemplar, pensar a árvore. Para Platão, conhecer a árvore é apenas
reconhecê-la, pois o conhecimento da árvore já estava na alma (ideia)
que foi aprisionada no corpo e permite ao corpo lembrar-se da árvore
mais verdadeira, mais real, da qual todas as árvores são cópias. A ideia
é mais perfeita do que a matéria. Eu posso destruir a árvore,
queimá-la. Mas não posso destruir a ideia de árvore. Eu posso desenhar
um triângulo e apagar o desenho, mas não posso apagar a imagem do
triângulo que está em minha mente. Para Platão, a árvore que eu vejo e
toco não é tão real quanto a árvore que eu imagino. Já para Aristóteles a
árvore que eu imagino não é real, não existe. O que existe é a árvore
que eu vejo e toco. Não existe “árvore”; o que existe é cada uma das
árvores. E cada uma é particular, é diferente das outras, ainda que
tenha semelhanças. Não quer dizer que eu não deva imaginar a árvore, mas
saberei que a árvore imaginada é apenas uma classificação. Quando digo
que 1+1=2 sei que o um é real, é aquilo que posso ver e tocar (e cada um
é diferente do outro um). Mas o dois é apenas uma classificação.
Existe
um quadro famoso pintado por Rafaelo, no século XVI, que traz Platão
apontando para cima e Aristóteles apontando para baixo. Para Platão o
conhecimento deve ir do universal para o particular enquanto que para
Aristóteles o conhecimento deve ir do particular para o universal. É a
experiência com as árvores em particular que me leva a criar a ideia de
árvore.
Para
Aristóteles Deus existe como um primeiro motor que faz tudo se mover
sem ser ele mesmo movido por nada. A partir do pensamento de Aristóteles
dirá mais tarde Tomás de Aquino que enquanto eu sou potência que pode
se tornar ato, posso sempre melhorar, Deus não é poder, é ato puro, pois
é perfeito, enquanto o homem tem uma tendência para a perfeição, que
pode ser desenvolvida ou negada, acomodada. Mas ainda que ele não
desenvolva a sua potencialidade, ela existe.