Belém- Pará- Brasil

domingo, 23 de junho de 2013

Sócrates, Platão, Aristóteles.

Entre os anos 470 a 400 antes de Cristo, época em que viveu Sócrates, os habitantes da cidade de Atenas, na Grécia, diferente dos de Esparta, que mais se preocupavam em se preparar para a guerra, tiveram uma cultura bem desenvolvida e diversificada. Por volta do ano 450 a.C., um governante de Atenas chamado Péricles, além de fortalecer a democracia (participação do povo nas discussões e decisões políticas), incentivou a cultura atraindo para a cidade filósofos, poetas, artistas diversos. Sócrates viveu nesse período especial de Atenas, mas também conheceu a decadência de Atenas com a guerra e a peste.
                Sócrates foi aluno dos chamados “sofistas”, que eram mestres ambulantes, ensinavam de casa em casa para os que podiam pagar pelas aulas. Não havia escolas. Durante muito tempo Sócrates foi aluno desses mestres até o dia em que se voltou contra eles e se tornou um novo mestre.
                Vivia pelas praças dialogando com os jovens  e sem cobrar por essa atividade. Tentava libertar os jovens das manipulações das lideranças e voltava-se contra os sofistas, sobretudo por um motivo: eles ensinavam.
                Sócrates utilizava dois métodos de educação. Um ganhou o nome de “maiêutica”, palavra que deriva de mãe. Ele era filho de uma parteira. A função da parteira é ajudar a criança a vir à luz. Não é ela que faz a criança existir. Sócrates se dizia um parteiro de ideias. Afirmava que nenhum mestre podia ensinar nada porque as pessoas já nascem sabendo. Cada pessoa já nasce com todo o saber dentro de si. Cada pessoa é um “microcosmo”, um resumo do mundo. Mas precisa tirar esse saber de si para poder utilizá-lo. Por isso Sócrates não ensinava, apenas provocava. Para provar sua teoria ele em certa ocasião se pôs a dialogar com um escravo, iletrado. E sem afirmar nada, apenas questionando de maneira lógica e linear, fez com que o escravo chegasse a admiráveis conclusões intelectuais. Sua máxima era “conhece-te a ti mesmo”, isto é, aquilo que você precisa saber não busque nos mestres, busque dentro de si mesmo. O mestre deve apenas facilitar, ajudar.
                O outro método de Sócrates era a “ironia”. Ele procurava os considerados sábios dando a impressão de buscar uma lição no interlocutor. Com grande lógica e coerência de raciocínio acabava fazendo com que o outro desistisse do diálogo ou caísse em contradição. Então dizia: “Sou o mais sábio porque, pelo menos, sei que não sei”. Quem se considera sábio não aprende porque acredita que já sabe e para de pensar. É necessário sempre desenvolver mais o pensar e pensar sobre o que se aprende. O saber não se esgota. Não há nada sobre o que alguém saiba tudo. Dizia Sócrates “Só sei que não sei”.
                Sócrates acabou sendo condenado à morte acusado de estar incentivando a rebeldia, de estar corrompendo a juventude e ofendendo os deuses. Após o julgamento propuseram pagar certa quantia em troca de continuar vivendo. Seus discípulos queriam pagar, mas Sócrates considerou que isso significaria reconhecer-se culpado. Preferiu morrer. 

                Platão nasceu em 427 a.C. e pertenceu a uma família nobre de Atenas. Foi discípulo de Sócrates. Após a morte de seu mestre ele saiu de Atenas e fez muitas viagens. Trinta anos depois voltou à sua cidade e fundou uma escola que recebeu o nome de Academia.
                Em sua filosofia Platão afirma que o mundo que conhecemos não é verdadeiro. Para ele a verdade não está no que podemos ver, tocar, ouvir. Tudo o que pegamos, vemos, ouvimos não é a verdadeira realidade, mas apenas sombras.
                Na filosofia de Platão existem dois mundos: o primeiro é aquele que podemos perceber ao nosso redor, com os cinco sentidos. O outro é o mundo das ideias, onde tudo é perfeito e imutável. Não podemos tocá-lo, ele não é concreto. Só o pensamento pode nos levar até ele.
                Vemos as coisas que conhecemos como se fossem reais, mas elas não passam de sombras, ilusão. A verdade está fora, no mundo das ideias, na luz. Ou seja: é preciso desconfiar do que nossos olhos e ouvidos dizem. Devemos nos guiar pelo pensamento e pela razão.
                Platão afirmava que o corpo era um túmulo que aprisiona a alma. Um obstáculo ao pensamento; acreditava que para atingir a verdade e o bem, você deve se libertar da sedução dos sentidos.
                São os apelos do corpo, que nos levam a paixões descontroladas e nos afastam da verdade. Platão dizia que ele deve ser sempre submetido às avaliações do pensamento. (Viviane Mosé, entrevista ao programa Fantástico, R.Globo, 2005).
                Platão faz uma distinção entre dois mundos: o mundo material, dos sentidos, e o mundo ideal, das ideias, do pensamento. Para ele o mundo ideal é mais real do que o mundo material.

                Aristóteles nasceu em 384 a.C., em Estagira, na Macedônia. Jovem ainda foi para Atenas ingressando na Academia de Platão, onde permaneceu por vinte anos. Após a morte de seu mestre, Aristóteles era seu natural substituto na direção da Academia. Entretanto não pôde assumir tal função, por ser considerado pelos atenienses um estrangeiro. Decepcionado com o acontecimento deixou Atenas e partiu para a Ásia Menor.
                A sua fama de filósofo aumentava dia a dia quando Felipe II, Rei da Macedônia, o convidou para ser educador de seu filho Alexandre.··.
                Em 338 a.C., Aristóteles retornou a Atenas fundando sua própria escola que passou a ser conhecida como Liceu.
                Aristóteles concordava que era necessário incentivar a todos em função de se ir além das impressões dos sentidos, mas afirmava que todos os conhecimentos passam pelos sentidos. Para ele nada há em nossa consciência que não tenha passado pela experiência material. Ele discordou de seu mestre Platão de que haja uma distinção entre mundo ideal e mundo dos sentidos. Diferente de Platão, que era idealista  (porque partia das ideias), Aristóteles era materialista no sentido de que, para o aprendizado, ele valorizava a experiência com a matéria.
                Enquanto Platão vem do geral para o particular, Aristóteles vai do particular para o geral. Você imagina uma árvore. Para Platão essa imagem árvore é real, é verdadeira; vem do mundo das ideias. E quanto à árvore particular, aquela que você pode ver, tocar, cheirar? Um animal vê, toca e cheira a árvore, mas não vai além disso. O ser humano pode admirar, contemplar, pensar a árvore. Para Platão, conhecer a árvore é apenas reconhecê-la, pois o conhecimento da árvore já estava na alma (ideia) que foi aprisionada no corpo e permite ao corpo lembrar-se da árvore mais verdadeira, mais real, da qual todas as árvores são cópias. A ideia é mais perfeita do que a matéria. Eu posso destruir a árvore, queimá-la. Mas não posso destruir a ideia de árvore. Eu posso desenhar um triângulo e apagar o desenho, mas não posso apagar a imagem do triângulo que está em minha mente. Para Platão, a árvore que eu vejo e toco não é tão real quanto a árvore que eu imagino. Já para Aristóteles a árvore que eu imagino não é real, não existe. O que existe é a árvore que eu vejo e toco. Não existe “árvore”; o que existe é cada uma das árvores. E cada uma é particular, é diferente das outras, ainda que tenha semelhanças. Não quer dizer que eu não deva imaginar a árvore, mas saberei que a árvore imaginada é apenas uma classificação. Quando digo que 1+1=2 sei que o um é real, é aquilo que posso ver e tocar (e cada um é diferente do outro um). Mas o dois é apenas uma classificação.
                Existe um quadro famoso pintado por Rafaelo, no século XVI, que traz Platão apontando para cima e Aristóteles apontando para baixo. Para Platão o conhecimento deve ir do universal para o particular enquanto que para Aristóteles o conhecimento deve ir do particular para o universal. É a experiência com as árvores em particular que me leva a criar a ideia de árvore.
                Para Aristóteles Deus existe como um primeiro motor que faz tudo se mover sem ser ele mesmo movido por nada. A partir do pensamento de Aristóteles dirá mais tarde Tomás de Aquino que enquanto eu sou potência que pode se tornar ato, posso sempre melhorar, Deus não é poder, é ato puro, pois é perfeito, enquanto o homem tem uma tendência para a perfeição, que pode ser desenvolvida ou negada, acomodada. Mas ainda que ele não desenvolva a sua potencialidade, ela existe.

Nenhum comentário: